Nadando contra a corrente



Entender a vida cotidiana vai depender de saber o que esperar dos outros, ou de saber que não podemos esperar nada, confiar no homem está exatamente atrelado aos valores morais que cremos possuírem, e presenciamos o esfacelamento da ética.

O sossego ao conviver em sociedade, que antes estava interligado a um estado da alma (?), na melhor definição religiosa do que sejamos e do que o próximo é, foi condicionado à espessura da blindagem que temos, no vidro do carro ou em nós mesmos... E no escudo que construimos para manter numa proximidade (ou afastamento?) seguro, alguém que possa tirar-nos a tranquilidade.

O medo impera, as mágoas trazem as angústias e a desconfiança . Nas relações, a frieza é a nova regra da convivência . "Seja freeze"..., intocável!

Uma vida diferente da cosmopolita começa a ser desejada, um outro lugar, um melhor ambiente; Sair para o campo, ou para o resort nos feriados, como um paliativo enquanto não encontramos uma outra vivência, num outro mundo... que certamente não vai acontecer. Sem utopias, a outra terra depende da construção no agora e aqui.

O futuro está determinado e os que conseguem vislumbrá-lo não tem uma visão muito agradável. Usarei agora, o termo "coração", como órgão central dos sentimentos, em homenagem às minhas amigas crédulas para localizar em nós a ação: Um futuro melhor vai depender de outro coração, outra fala para o próximo, esse mesmo "próximo" que não pode ser pensado como "outro", mas como um reflexo de nossos próprios sentimentos, das nossas próprias aspirações naquele indivíduo ao lado.

Descobrimos que muitos não querem os pensamentos e o coração que têm ao perceber que são moldados pelas paredes desse admirável mundo novo. "O primeiro passo para a cura, é descobrir a doença". Mas será que o remédio é resistir à esse "modelamento"? Vão conseguir nadar contra a maré?

Estar doado aos autônomos sentimentos que poderiam trazer (teoricamente) o acerto, o aconchego, a segurança por adaptar o mundo às nossas subjetividades nos dão justamente o oposto: Pensar em si em cada atitude que tomamos no dia a dia faz com que se perca o sentido social que determina o homem, coletividade. O social anda de mãos dadas com o pensamento e a atribuição de importância que damos às pessoas que nos cercam.

Faz-se urgente achar o sentido ou a falta dele, em como tomamos as decisões baseadas apenas no que é melhor para o eu. Como é impossível (ainda) voltar no tempo e viver o passado nele mesmo, resta-nos observá-lo e aprender com o que não tem dado certo.

Pergunte aos caminhos, já percorridos. O cuidar trás a segurança.
Esse cuidar não se trata das políticas assistencialistas, que deduzem o que as pessoas precisam, mas antes, perceber quais as necessidades, simplesmente fazendo-os participar da decisão e ao executa-la, satisfazer não apenas um interesse subjetivo.

Quando o que é certo transforma-se "no que achamos certo". O que é bom ou ruim fica igual, o juiz somos nós, e nisso resume-se o perigo. O Iluminismo veio para acabar com a Idade das Trevas, pensando nisso, como um acontecimento do passado, cremos estar além da era iluminista, ainda mais clareados e esclarecidos.

É preciso recorrer à química e lembrar que todo sistema tende ao equilíbrio, e à física para atentarmos na teoria de que a estabilidade vem do caos e retorna à ele. Não me digam que devo separar as ciências, porque elas estudam o mundo e ele mesmo não está dividido. É uno! Tudo se interrelaciona - aprendi isso com um pescador analfabeto.
Fortaleça não seus próprios limites (muralhas) mas a capacidade de ver sobre e além deles, desterre os tesouros e almeje o que podem ter se usá-lo bem.

(Miliano)


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