Ídolos e Subjugados
Estátua,
um pedaço de pedra adorado,
idolatrado por uma mente
escravizada a seu enigma.
Tudo por aquele carismático ser inerte.
A vida e a morte oferecidas
àquela poderosa imagem.
O corpo, o suor , o sangue,
tudo por aquela vampira,
velha morcega a sugar
a energia vital daquela alma,
Não lhe dando direito de falar,
de ouvir ou de olhar,
não admitindo
que tivesse direito algum.
Senzala onde se aprisiona
a lucidez dos cérebros.
Cárcere onde torturam-se
as novas esperanças.
São linhas circulares,
são infinitas voltas
em torno do mesmo ponto,
sentindo, assim,
que o mundo está a girar.
Ficando tonto,
perdendo a noção do espaço.
Abatido por uma zonzeira,
sentindo que o chão fugiu aos pés.
Estranha encenação de peça
onde assassinaram-se os atores.
E então o riso, a ironia,
o sarcasmo e todos morreram felizes.
Rainha das eminências pardas,
que adentre majestosa por uma porta,
que coloque todos de joelhos.
Que crie um tribunal e um julgamento.
Uma moeda ao alto: “cara ou coroa?”
Está dado o veredicto:
“Todos estão eternamente condenados.”
O destino já está traçado,
não existe probabilidade de mudança.
Que ninguém tente se defender.
Saiba que sempre será tarde demais.
Saiba que tudo tem início, meio e fim.
E agora, queira ou não queira, é o fim.
Tenha por testemunhas
verdades que, de fato,
são apenas mentiras.
Porém, saiba que aos donos da deusa
mentir é a arte de criar verdades.
Cabe aos crédulos viver por elas
e, se preciso, morrer por elas.
E se for assim, não grite,
não perturbe com sua dor.
Não faça drama
que manche a sutileza.
Afinal de contas,
nesse mundo de coisas
seu prêmio também será uma coisa,
será uma réplica da amada estátua
que repousará
como que divindade
sobre seu túmulo,
que seu fantasma enlouquecido
tomará às mãos e atirará ao chão,
vertendo lágrimas e sentindo prazer
ao ver, com desprezo,
os inúmeros cacos.
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