Do fundo da memória...

Outro dia emocionei-me com uma cantora lírica.
A música tocou-me de tal modo que, sem que nunca esperasse, encheu-me os olhos d'água.

Exatamente o que aconteceu-me essa manhã, quando vovó, depois que eu servisse-lhe o café,
cantou pra mim:

"Chora bananeira, bananeira chora
Chora bananeira, o meu amor foi embora
Foi embora meu amor, eu sei onde ele está
Eu tenho o endereço mas eu não vou procurar
Garota cor de canela não olhe pra mim chorando
Porque a sua família já está desconfiando..."

A voz fraquinha era carregada de uma pureza e graça que eu via
só quando acordava com ela cantando na cozinha, eu era criança. O engraçado é que eu
nunca tinha ouvido essa música vindo dela.

O Alzheimer ao destruir as memórias recentes, parece que descobre memórias lá do fundo da mente...
Mas dessa vez ele não pôde fazer-me tanto mal, por causa da musiquinha de vovó.
Tentei, alguns momentos depois, cantar junto com ela, mas ela já tinha esquecido.
Penso que são pérolas assim que a vida nos atira, feitas especialmente pra gente lembrar
até morrer aos pouquinhos.

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