Repost

[babel.jpg]



A vida cotidiana de homens e mulheres comuns, é regrada pela sociedade do consumo, há uma transformação do indivíduo numa mercadoria, numa coisa, e assim é tratado como tal. Mudanças culturais e sociais nas últimas duas décadas são suficientes para falarmos em um novo período histórico.

Há uma nova percepção do mundo, nas cabeças da última geração, uma hierarquia de valores que, entre outras coisas, descarta a idéia de um tipo de regulamentação normativa da comunidade humana, sem regras, assume-se que todos se equivalem, como coisas, mais uteis ou menos uteis, mais usáveis ou descartáveis em um dado momento. Todos são igualmente bons ou maus, sem que isso seja realmente relativo ao seu significado, adota-se a subjetividade como marco julgador, enfim, uma ideologia que se recusa a fazer julgamentos baseados em ética, só em pressupostos de utilidade pessoal. Recusa-se a debater seriamente questões relativas a modos de vida viciosos ou virtuosos, pois, no limite, acredita-se que não há nada a ser debatido.

Compreender esse tipo curioso e em muitos sentidos misterioso de sociedade que vem surgindo ao nosso redor faz-nos investigar que movimentos levaram a tais transformações, talvez a revolução do trabalho, no ensino, o debate do pertencimento ou o feminismo... contudo resta a necessidade compulsiva e as vezes obsessiva de auto-afirmação, de afirmação sobre o outro, sobre o social enquanto movimento, sobre os valores tradicionais.

Tudo é temporário. Incapaz de manter-se. As instituições, quadros de referência (vide Foucault), estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se estabelecer em costumes, hábitos e verdades. Nada como antes, nenhuma mudança busca mais a enrraização, tudo é volátil. Os empregos, o know-how, os relacionamentos. Tudo tende a permanecer em fluxo, desregulados, flexíveis demais (usando o melhor termo para expressar).

O "para sempre" dura 20 anos, dois anos, alguns meses. Quais as consequências dessa situação? A lógica do indivíduo desaparece, não sabemos o que esperar de ninguém na medida que os próprios valores são voláteis ou não existem mais. O que esperar do cotidiano? No trânsito onde mata-se por nada, no trabalho sem o coleguismo, no aproveitar-se de tudo e todos em prol de interesses sempre subjetivos. Não há coletividade, não há parceria, deixou de haver lealdade.

Todos os aspectos da vida são afetados quando se vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha sentido. Não se faz mais planos por que não há identidade fixa. O ser humano é cada vez mais individualista, e nessa individualização é cada vez mais só. Ele
precisa do outro como o ar que respira, mas ao mesmo tempo, ele tem medo de desenvolver relacionamentos mais profundos, que o imobilizam, num mundo em permanente movimento, cheio de possibilidades, mas totalmente fluido, sem solidez.

Antes as ameaças eram óbvias, os perigos eram mais palpáveis e não havia mistério sobre o que fazer para neutralizá-los ou ao menos aliviá-los. Os riscos de hoje são de outra ordem, não se podendo sentir ou tocar muitos deles apesar de estarmos todos expostos, em algum grau a suas consequências. Antes a sociedade era menos ansiosa e tinha uma vida mais segura e estável. Hoje não podemos medir a fortaleza de uma relação pelos seus pontos fortes construídos por todos, mas pelos pontos fracos, que pela subjetividade vai depender só de um.


Por Marcos Miliano - baseado em Zygmunt Bauman.

Comentários