O mundo está tão mudado...!

Pense em como seria acordar num quarto que você não reconhece, mesmo tendo dormido nele pelos últimos vinte anos. Ao acordar não saber de quem é a casa em que seu quarto está, quem está nessa casa ou se está lá sozinho ou foi esquecido. A insegurança que te invadiria certamente o faria criar diversas explicações para que sua mente não sucumbisse com essa situação. Se bem que estar vivo sem as ligações com o mundo, que te identificam, não seja um tipo de morte que Alzheimer traz.

"O mundo está tão mudado...!" É uma das explicações que minha avó encontra para um percepção radical de uma mudança que virtualmente aconteceu, entre o que existe e o que existia há 35anos. Pois o que ela lembra está lá no passado e tudo saltou décadas para seus tristes olhos...

Eu gostaria que meu rosto não tivesse mudado tanto nessas décadas, para que ela reconhecesse em mim, o rapaz que ela com tristeza, está esperando chegar. É injusto que ela não sinta o amor e a atenção que espera receber do jovem-eu, que não virá, e que a velha pessoa que sou não tem mais os olhos de criança que minha avó tanto elogia, para que talvez, por eles, ela pudesse acreditar que eu sou aquele garoto da foto em frente a sua cama.

de "Um Romance Sobre Alzheimer"

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