Proteger e Servir




Esse caso dos quatro homens que foram torturados para confessarem o estupro e o assassinato de uma garota, vem revelar, ainda que rapidamente e sem muita fixação o tipo de policiais que temos. 

É bem verdade que existe policiais bons, íntegros, honestos e que tem por vocação e equilíbrio, o exercício da profissão, mas infelizmente, é uma pequena parte e muito pouco representativa.

Nunca, nem sequer ouvi uma história onde o cidadão saísse satisfeito de uma abordagem policial ou de uma visita à delegacia. Pelo contrário, não só eu, mas todos os meus queridos sete leitores podem narrar histórias escabrosas do atendimento, por policiais, quer civis, militares, federais ou municipais, à algum conhecido.

Não vou nem detalhar o corporativismo, onde policiais se protegem, mesmo sabendo de uma atividade fora da lei, pouco ética ou não profissional de um colega. E claro, protegem-se contra o cidadão, que outrora, num juramento e certamente nos princípios adotados deveriam ser servidos e protegidos.

Certa vez estive numa delegacia (pela segunda e última vez na vida, a primeira foi para tirar a RG) para prestar queixa de um ex-policial, preso em flagrante, e não só fui tratado com coerção para desistir da queixa, como o ex-policial que foi expulso da corporação, não foi recluso, não ficou nem sob observação, como foi liberado com uma fiança de alguns trocados. Eu que senti-me o bandido da história, depois de passar seis horas para que o processo de lavratura dos autos fosse feita, e de ter corrigido três vezes o boletim de ocorrência, dos "erros" que sempre comprometiam minha queixa e ainda duas outras vezes corrigir o texto do meu depoimento, quando mandado assinar, depois de perceber que no texto, eu é que acabava como errado.

Não só eu estava sendo enganado, como estava sendo subestimado, pensando eles que eu não leria ou não seria capaz de entender que a retórica estava ao avesso do certo. Agora, imagine vocês, os tantos cidadãos que por oportunidade de vida, não tenham essa minha capacidade de entendimento de um texto! Assinam um depoimento ou um boletim onde estão colocados desfavorecidamente.

A maioria da população não sabe que o tratamento que aqueles quatro homens sofreram, é praxe na grande maioria das delegacias do país.

Meu avô foi policial, e eu naturalmente quis seguir a carreira dele, pois sempre foi meu herói. Mas ele mesmo fez o possível para que eu desistisse de tal objetivo.

Outro dia, conversando com um amigo de universidade, que agora é oficial PM, questionei exatamente sobre o que escrevi acima, e ele disse-me: "Como mandar um lobo prender um leão?" (onde o leão seria o presumível bandido) E continua: "Mandamos para prender um leão, outro leão!" - Assim ele justificava a atitude discutível dos policiais. Gostaria de ratificar que esse meu amigo, é pelo que conheço, ético, mesmo assim chegou a comentar isso. Também tenho amigos de infância que são policiais e posso garantir-lhes que depois de entrarem no sistema, tornaram-se outras pessoas.

Não resta dúvida, que quem não se enquadra tem que sair do sistema ou será "saído".
Mas, depois que os amigos divagarem além e a partir,  desses simplóreos parágrafos qual esperança ou segurança sentirão? Talvez a mesma que sinto: nenhuma.

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