A puliça também é federal


Hoje saí cedo para viajar. Após passar por um temporal durante quase quarenta quilômetros, passei distraído por um posto da polícia rodoviária, e para minha surpresa um policial acenou para que eu parasse, como se eu fosse um bandido.

Pensei que essa nova turma de funcionários públicos viria a melhorar o serviço, pois na minha concepção esses concursados seriam realmente melhor preparados e por conseguinte, mais éticos e diferentes daquela turma, que ocupava os cargos públicos pelo apadrinhamento, e geralmente sem comprometimento ou preparo. Seriam uma salvação para o Brasil.

Olhei para o velocímetro e vi que realmente estava rápido, acho que algo em torno de 80Km/h. Parei o carro como ordenado, dei ré em direção dos policiais. Esperei que alguém chegasse ao meu lado, na janela para que fosse abordado como deveria. 

O que aconteceu foi que os policiais rodoviários federais aproximaram-se um de cada lado, segurando a arma no colete e permaneceram a cerca de dois metros do carro, para trás de mim, como se eu fosse sacar a qualquer momento uma metralhadora e alvejá-los... ora... eu dei marcha a ré! Se fosse bandido talvez não tivesse parado, ou mesmo talvez tivesse passado por cima dele.

Baixei o vidro, coloquei a cabeça para fora, olhando para trás. Antes que eu falasse, o policial falou em voz ameaçadora: "Os documentos do veículo e os seus"! (acho que ele queria os documentos de uma terceira pessoa, ou teria dito "teus").

Respondi - "Pois não, policial!" Virei-me e peguei a habilitação e o documento do carro, coloquei a mão para fora, bem ao meu lado, esperando que ele os pegasse. Ele esticou-se todo e tomou os papeis de minha mão, ordenando em seguida que eu saísse do carro e trouxesse o extintor e o triângulo.

Saltei do carro com o extintor de incêndio na mão, entreguei ao policial e fui em direção ao porta-malas, abri-o para pegar o segundo objeto, comecei a tirar as malas para alcançá-lo.  O policial interrompeu e disse ainda agressivamente: "Não precisa..., o extintor está vencido! Você estava em alta velocidade, numa área de 40Km, passando por dois AGENTES!".

Aí eu pego-me a pensar: Ele parou-me supostamente prezando pela segurança dos outros condutores e até pela minha, por isso pediu que encostasse para impedir um acidente por excesso de velocidade, pediu os documentos, para saber se eu era habilitado e se o carro não era roubado ou se eu realmente teria pago meus impostos. Mas se fosse realmente isso, teria deixado eu prosseguir, para verificar se eu tinha todos os equipamentos de segurança (ou ele só queria um motivo para multar... o extintor vencido já bastava...) e ainda, não teria "agravado" meu status de infrator, dizendo que eram |dois agentes|... (será que apenas estar numa área de baixa velocidade não bastava para estar errado? Ou ter um policial, ou pior dois POLICIAIS, agravaria a situação... Poder! Ele sentia-se desmoralizado.

Ainda falou, antes que eu fechasse o porta-malas, que o companheiro policial deveria pegar o bafômetro. Será que as sete da manhã, ele imaginava que eu estava vindo da balada, numa BR, com todas aquelas malas e ainda de cabelos molhados?

Não discuti, nem argumentei, tinha tomado meu remédio (kkkk) e estava tranquilinho. Acho que por isso me distraí! (kkkk2). Sabia que estava errado e já estava conformado com a multa. Eu estava muito cidadão nessa manhã. Acho que ele, esperando um "vamos dar um jeito"... que não veio, percebendo o trabalho que teria de preencher aquela papelada toda (é..., a multa da PRF tem muito mais papel que o da puliça de trânsito na cidade). Mandou o colega preencher a papelada: "...toma, você que gosta... eu vou parar um caminhão...". (ele ia parar um caminhão... que nem tinha passado ainda, já presumindo culpa!)

Esse outro, percebendo o abacaxi que recebia, olhou-me e disse mais educadamente que o outro: "O senhor estava em alta velocidade..., seja mais atento.". E abri a boca pela primeira vez: "Sim, eu estava distraído".
E ele disse: "...vá embora, vá!" Continuei excepcionalmente calado, obedeci, entrei no carro e partí.

Percepção - segunda parte: Eu estava triste por não ter sido multado ou por saber que estava com um pensamento errado? Aqueles policiais, jovens, recém empossados, estavam repetindo uma tradição de grande parte da velha guarda e da maioria dos policiais (mesmo jovens) da cidade - a corriqueira corrupção.

Infelizmente esse tipo de ação deixa o cidadão desacreditando na força policial, seja ela civil, municipal, estadual ou federal. Nunca, nas poucas e dessaborosas interações com policiais, tive uma boa impressão das corporações. Estamos perdidos!




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