Espíritas e Cátaros - qualquer coincidência, mera semelhança


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIwSIYemI1gNqaLtA4ZCdVioEkbR9yn6lmBLFmNZZmpNTHbm4XmRpGIq_sXcexYbSGqCew2Kf-GIk_Pdrw5J242SOrVbyb3VjvzHAHtKhRsTFCxKls9KpBQoCQEuY41z_GSHPX/s1600/languedoc%25282%2529.jpg

Eles queimaram na fogueira porque repudiaram a Igreja, desafiaram o papa e fundaram um catolicismo alternativo em plena Idade Média

O povo de Languedoc, no sul da França, é conhecido por ser do contra e orgulhoso de sua terra. Os habitantes daquela região se gabam de ter as videiras mais antigas do país, plantadas pelos romanos. Também empinam o nariz para o futebol, esporte mais popular entre os franceses. Lá, o que se joga é rúgbi. Essa vocação para a dissidência vem de longe. Seu ápice ocorreu no século 11, quando cidadãos de Languedoc repudiaram a Igreja Católica – por eles chamada de Igreja dos Lobos – e fundaram um cristianismo alternativo: o catarismo.

Os cátaros formaram a sociedade secreta mais “popular” da Idade Média. Alguém falou em heresia? Para esses cristãos, herege era o papa. “Eles se julgavam herdeiros dos apóstolos e foram condenados por isso”, escreve Mark Gregory Pegg em The Corruption of Angels (“A Corrupção dos Anjos”, inédito no Brasil), que narra a trajetória da seita.

BONS HOMENS

A história dos cátaros teve um início obscuro. Em 1022, dois monges que nada tinham a ver com o movimento foram queimados vivos, acusados de adorar o Diabo. O bispo do condado de Toulouse, o maior da região de Languedoc, condenou a execução. Secretamente, ele e outros membros da Igreja já vinham discutindo idéias pouco ortodoxas aos olhos do catolicismo. Acreditavam num Deus que era puro espírito. E que a criação era obra maléfica, não divina.

No século 12, 4 paróquias de Languedoc abandonaram formalmente o credo católico, abraçando as novas idéias: Toulouse, Carcassone, Albi e Agen. Por causa das duas últimas, o movimento acabou sendo chamado também de albigense. A palavra “cátaro”, porém, só entrou para o vocabulário medieval por volta de 1160, graças a um pregador católico da Renânia chamado Eckbert de Schönau – emérito detrator da seita. Segundo uma de várias versões, o termo viria do grego katharoi, que significaria “os puros”. A história mais aceita, contudo, é bem menos lisonjeira. Segundo Alain de Lille, um teólogo francês do século 13, sua origem estaria na palavra catus (“gato” em latim), pois os seguidores da seita “faziam coisas ignóbeis em seus conciliábulos, como beijar o traseiro de gatos”.

Os novos fiéis estavam se lixando. Eles se autodenominavam bons hommes e bonnes femmes (“bons homens” e “boas mulheres”). E repudiavam o termo “cátaro”. Os padres se vestiam com hábitos negros. Rejeitavam o dogma da Santíssima Trindade e também os sacramentos, como o batismo, a eucaristia e o matrimônio. E viam com naturalidade o sexo fora do casamento. “Se a castidade não pudesse ser priorizada, era melhor manter encontros casuais do que regularizar oficialmente o mal”, diz a historiadora Maria Nazareth de Barros, autora de Deus Reconhecerá os Seus: A História Secreta dos Cátaros. A nova crença também arregimentou adeptos na Catalunha, na Alemanha, na Inglaterra e na Itália.


https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxsLvnIjJxfUatmc7zZHCpGgc2OIKSaB-myRLuJT2TlzzzK2t1H_J3RHV3H8YjvPOwPflqCZnHwtx0CkpyC01G1Xj66zuUq4QjOB6TpSA4CflzW-vEC93Yta-x7tymQ7Ue-EP0kQ/s400/cataros4.jpg

FOGO DIVINO

Roma tentou conter o catarismo na base da conversa até meados do século 12. Quando o papa Inocêncio 3º assumiu, em 1198, a atitude da Igreja endureceu. Inocêncio suspendeu diversos bispos do sul da França. Em 1208, o representante eclesiástico Pierre de Castelnau excomungou um nobre de Toulouse. Em represália, foi assassinado.

O incidente foi a gota d’água. No mesmo ano, o Vaticano autorizou uma guerra santa contra Languedoc – a primeira e última cruzada contra cristãos da história. No cerco a Béziers, em julho de 1209, 7 mil fiéis foram chacinados, entre eles mulheres e crianças. Em 1244, 200 cátaros foram queimados vivos numa grande fogueira nas redondezas da fortaleza de Montségur. A tortura era generalizada. O interrogador católico Guilhem Sais, certa vez, afogou uma mulher cátara num barril de vinho, pois ela não queria confessar seus supostos pecados.

A Igreja precisou de décadas, mas conseguiu varrer os cátaros da face da terra. No coração dos habitantes de Languedoc, porém, a seita sobreviveu. O povo daquela região é do contra, lembra? Até hoje, em cidades como Montpellier e Toulouse, os revoltosos viraram até nome de rua: des Heretiques (dos Heréticos) na primeira e des Cathares (dos Cátaros) na segunda. Custou a vida de muitos, mas eles conseguiram sua revanche contra o papado. “Se existe uma coisa que os cátaros nos ensinaram”, diz Pegg, “é que as fronteiras da heresia são móveis, e que devemos ousar alargá-las.”


A curta trajetória de uma seita esmagada pela Igreja

1167

São criadas as 4 primeiras paróquias cátaras, na França.

1198

O papa Inocêncio 3º suspende os bispos ligados ao catarismo.

1208

Um enviado do papa excomunga um nobre cátaro e é assassinado.

1209

Começa a cruzada contra a seita. Em Béziers, 7 mil são chacinados.

1233

O papa Gregório 9º ordena a Santa Inquisição, para reprimir heresias.

1244
Duzentos cátaros são queimados em Montségur. É o fim da seita.



Fonte: Superinteressante by Álvaro Oppermann





Catarismo (o que a wikipédia diz)


http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/e/e4/Cathars_expelled.JPG/800px-Cathars_expelled.JPG

Expulsão dos Cátaros de Carcassonne, em 1209.

O catarismo (do grego καϑαρός katharós, "puro") foi um movimento cristão, considerado herético pela Igreja Católica que manifestou-se no sul da França e no norte da Itália do final do século XI até meados do séculos XIV. Suas ideias tem fortes paralelos com o gnosticismo do início da era cristã. Os historiadores indicam sua formação a partir da expansão das crenças dos bogomilos (Reino dos Búlgaros) e dos paulicianos (Oriente Médio).

Os cátaros eram maniqueístas e gnósticos, pois afirmavam a existência de dois princípios opostos: o do Bem e o do Mal. Portanto, eles atribuíam entidade ao Mal. Consideravam que o mal tinha existência ontológica. E isto é o que os tornava maniqueus. Apesar disso, afirmavam ser os verdadeiros e bons cristãos. Dai serem seita cristã e maniquéia. Mais do que isso, eram maniqueistas porque traziam em sua doutrina aspectos da mensagem sincrética do iniciado persa Mani, que tinha espalhado pelo mundo antigo, sua doutrina gnóstica.

Para eles, a matéria teria sido criada pelo deus do mal, para aprisionar nela o espírito do Deus bom. Portanto, todo o universo material seria maligno, e o Criador do Mundo -- Deus adorado pelos Católicos -- seria o Deus do Mal. Um deus menor encarregado da criação do mundo, conhecido universalmente como Demiurgo, seria então sob esta ótica, o deus da matéria ou do mundo da matéria, o Deus supremo seria o principio de todas as coisas, a fonte do mundo divino.

Em conseqüência, eles condenavam a maternidade, pois que a mater, a mãe, produziria mais matéria. Por isso diziam que toda mulher grávida estava ``possessa´´ . A mulher, enquanto geradora de matéria, seria fonte do mal, entenda-se mal aqui, como a impossibilidade do ser humano de gerar seres perfeitamente espiritualizados, todo ser que nasce neste mundo, nasce por que é imperfeito e possui Karma, o nascimento poderia ser visto como uma possibilidade de resgate. O casamento e a procriação eram tidos como obras do deus do Mal, contudo ao mesmo tempo uma benção pois, evitava uma degeneração maior dos seres humanos, segundo a lei bíblica: é melhor casar do que abrasar.

Os sacerdotes cátaros, que denominavam-se "bons cristãos" ou "bons homens" e "boas mulheres", aparentemente levavam vidas simples e castas. Desprovidos de quaisquer posses materiais, buscavam afastar-se ao máximo do mundo, que consideravam corrupto, pois consideravam toda matéria corrupta. Eram considerados bons homens a partir do momento em que recebiam o consolamentum, um rito que representava de maneira simbólica sua morte com relação ao mundo. Os crentes (croyants) eram simpatizantes da doutrina cátara e somente recebiam o consolamentum nos momentos que antecediam sua morte. Os altos sacerdotes cátaros eram denominados perfeitos. Eles caminhavam entre o povo, sempre dois a dois, pregando o Amor universal e também auxiliando a população em suas necessidades. Devido à inúmeras discrepâncias entre o pensamento cátaro a e doutrina da Igreja Católica, entre eles o pensamento maniqueísta, o catarismo foi visto, pela Igreja Católica, como uma perigosa heresia. A perseguição iniciou-se por uma tentativa fracassada de reconversão da população local. Posteriormente, foram instalados tribunais de inquisição. Nessa época, a convivência local entre católicos e cátaros era boa: existem poucos relatos históricos de conflitos e há até mesmo diversos relatos de acobertamento de cátaros por católicos. Como todas as tentativas anteriores haviam falhado, a igreja católica implementou a conhecida cruzada contra os albigenses (referência aos cátaros habitantes da cidade de Albi e, por extensão, a todos os cátaros do sul da França). Essa foi a primeira cruzada a combater pessoas que se autodenominavam cristãs. A cruzada foi finda pela Rainha~Regente Branca de Castela, mãe de São Luis Rei da França, que pertenciam à dinastia capetiana, extremamente católicas. Essa violenta cruzada marcou o fim do movimento cátaro.


Ensinamentos do Catarismo

A doutrina cátara preconizava:

1) Um dualismo gnóstico, no qual o verdadeiro Deus distingue-se absolutamente do criador do mundo físico.

2) Neste mundo de corrupção e trevas, as centelhas de luz pertencentes ao verdadeiro reino divino estão perdidas, exiladas neste mundo, e precisam ser resgatadas.

3) Os sacerdotes deviam afastar-se completamente da corrupção do mundo para levarem vidas muito simples e castas. Deviam abster-se da alimentação carnívora, de atividades sexuais, evitar qualquer forma de violência e não podem possuir nenhum bem material.

Cosmologia

Para os cátaros, todas as criaturas e o mundo criado estão imersos em uma guerra eterna entre dois princípios irreconciliáveis: a luz – ou seja, o Espírito – e a escuridão, ou matéria. O verdadeiro Deus é visto como o criador do reino divino. Já nosso mundo material, repleto de miséria e corrupção, não pode ser uma criação do verdadeiro Deus. Portanto, só pode ter sido criado por um Deus mundano, que em certas ocasiões se associa com Satã. Ao mesmo tempo, os cátaros acreditam que há partículas do reino de Deus - centelhas divinas adormecidas no ser humano - perdidas neste mundo, e que elas precisam ser despertadas e resgatadas.

Salvação

É com o intuito de resgatar as centelhas divinas aprisionadas no mundo e nos homens que se organiza na terra a verdadeira igreja de Cristo, a igreja cátara. Para isso, os cátaros precisam afastar-se, tanto quanto possível, deste mundo e de seus atributos - No mundo moderno este aspecto do ideal Cátaro é conseguido de forma interior, um afastamento interior das paixões e aprisionamentos da vida terrena e passageira, sem contudo descuidar dos compromissos sociais e familiares. Por isso o Catarismo ainda é possível em nossos dias. - forçando-se para se contaminar o mínimo possível com eles. Enquanto isso, a vontade de Deus se cumpre. Com o rito do consolamentum, o cátaro é desligado do mundo e se liberta de sua influência nefasta. A partir de então, ele está livre para seguir o caminho das estrelas, o caminho de retorno ao reino divino.

Os Cátaros e o Santo Graal

Há uma famosa lenda que afirma que o Santo Graal (supostamente, o cálice onde Jesus teria bebido vinho na Santa ceia) teria sido possuído pelos cátaros. Durante o cerco a Montségur, o castelo que era considerado o foco central do catarismo, alguns cátaros teriam fugido durante a noite, descendo furtivamente a montanha onde o castelo estava encravado, levando consigo o precioso cálice, para escondê-lo em um lugar seguro, onde ele residiria até os dias de hoje.

Visão da Igreja Católica

A Igreja Católica considera o catarismo um movimento herético, dualista, com fortes influências maniqueístas.

Visão Histórica

Recentemente, os historiadores, através da descoberta de textos originais Cátaros tem modificado profundamente a visão científica sobre o movimento. Anteriormente, somente a palavra dos opositores dava testemunho sobre ele. Espera-se que em breve esta nova literatura torne-se disponível em língua portuguesa.

A cruzada Cátara

A resistência às sucessivas tentativas de reconversão da população local provocou a organização da Cruzada albigense. Iniciada em 1209, a cruzada durou cerca de 35 anos. Foi comandada por Simon de Montfort sob ordem do Papa Inocêncio III. Seus enviados estampavam uma cruz em suas túnicas e tinham como meta a absolvição de todos os pecados, a remissão dos castigos, um lugar a salvo no céu e, como recompensa material, o produto de todos os saques.

A primeira cidade tomada foi Beziers, e o massacre foi quase que total. O abade de Citeaux, representante papal, ao ser questionado sobre como seriam reconhecidos os cátaros e os católicos, ele havia respondido: " Matem a todos... Deus se encarregará dos seus..."

Luís VIII de França também participou da Cruzada. Iniciada com a invasão de Beziers (1209), ela só teve fim após diversas batalhas (onde se destacam a de Muret, em 1213, e a de Toulouse, em 1218) logo após o Tratado de Meaux (1229), já sob o reinado de Branca de Castela. Na verdade, porém, Montségur permaneceu até 1244 como um dos últimos pontos de resistência. O último reduto cátaro, a cidade de Quéribus, foi tomada em 1256. A morte do “último cátaro” aconteceu bem mais tarde, em 1321, perseguido pela Inquisição liderada por Jacques Fournier em Pamiers. Mais tarde, Jacques Fournier foi instalado como papa Bento XII e procedeu à construção do Palácio de Avignon, onde se estabeleceu o papado.
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4eyPZCIpddJ6lzqF1AsEXyfL6V8zl4SmByi0c9p5Rsi4r5q7pVUrQwC8qDE-k8VdgJJAh1wJbVD-va8bQaQPjSblLcJumSJzkfqTTf21LfbJQ1n28r4c-6vv62GumGnMymEIIVA/s200/C%C3%A1taros4.gif

Comentários