Como identificar um político corrupto


Texto original: Claudio Lopes

Identificar um político corrupto implica em observar elementos básicos. Em todo o mundo essa tarefa pode ser aplicada modificando-se elementos para a adequação a cada realidade. No Brasil, cabe observar alguns pontos. Vamos a eles:

  • Sinais de enriquecimento incompatível com a renda percebida. – Os sinais mais básicos de enriquecimento incompatível passam pela moradia do político corrupto e bens de consumo como automóveis, roupas, cirurgias plásticas deles ou de cônjuges e etc.

É muito comum haver uma mudança de endereço passando de um bairro menos favorecido a um de status mais elevado. Geralmente essa mudança pode acontecer em vários estágios, mas sempre de uma moradia mais simples para uma mais sofisticada. No caso de pedido de explicações por parte da opinião pública, é comum a apresentação de documentação que justifica a compra ou aquisição dos bens por meio de financiamentos e/ou outros artifícios . Curiosamente, os preços mostrados nesses documentos são sempre subfaturados e estão sempre muito aquém do mercado. Deve-se observar que parentes e amigos desses “políticos”, atuando como “laranjas” também podem apresentar estes sinais de enriquecimento com a abertura de firmas que superam o desempenho geral do mercado no mesmo período de vigência. Esta é uma característica forte de lavagem de dinheiro.

Uma forma muito segura de se identificar o corrupto pelos sinais de enriquecimento ilícito é fazer um paralelo entre o antes e depois da eleição da vida financeira do político em questão. Nome nos órgãos como SPC, SERASA e emissões de cheques sem fundos títulos protestados são muito observados no período anterior à eleição. Os números não mentem.

  • Cercar-se de secretariado forasteiro. – cercar-se de pessoas de fora é muito útil ao político corrupto. Forasteiros são mais suscetíveis à corrupção por não terem uma ligação afetiva com a cidade ou local a ser administrado. Com o tempo, seus pares revelam o quão corruptos ou corruptíveis são e o secretariado pode sofrer muitas mudanças num curto período. Usar pessoas de fora da cidade é também muito útil, pois, após o período de gestão, o elenco parte para suas cidades de origem e as chances de confrontação com seus crimes tornam-se difícil e desestimula o povo e oposição a agir. Com o tempo, as ações desses grupos criminosos tornam-se “piadas de salão”.

Políticos corruptos detestam pessoas com boa memória. Jornais da região, gravações de programas transmitidos por rádio, vídeos e principalmente internet são as estacas de madeira desses sanguessugas.

  • A área gerida sofre com a administração. – é comum que o local de atuação de uma administração corrupta sofra as deficiências decorrentes do desvio de dinheiro. Sinais evidentes são as ruas esburacadas e problemas em serviços básicos de atendimento à saúde e educação. Nota-se que os serviços são executados de forma precária, os acabamentos são de péssima qualidade (quando são executados). Nota-se um “modus operandi” em todas as administrações corruptas: os trabalhos se intensificam após um pouco mais de dois anos de mandato. Motivo: como as gestões são de 4 anos e no ultimo ano de mandato as campanhas ganham força, temos apenas 3 anos e seis meses, em média, para a atuação do corrupto como “gestor”. Portanto, logo após os primeiros meses do segundo ano, alguns reparos são feitos com o intuito de “ganhar” o público pouco instruído que representa algo em torno de 80% da população.

O trabalho de pessoas comuns é muito importante na identificação dessas deficiências. Ouvir a população é um meio muito seguro de obter informações e fazer constatações das irregularidades. Recomenda-se o uso de câmeras de todos os tipos e a documentação por imagens e sons que possam datar as evidências. Num cenário como esse, é comum notarmos uma oposição oportunista que inflama a população no cumprimento de uma agenda de reposição administrativa. Frente às manifestações que tomam corpo, o político corrupto começa pequenas obras de efeito visual. Ele tapa alguns buracos e espera que o povo se cale.

  • Verbas de publicidade. – a eficiência de um sistema corrupto aumenta quando o público não recebe as informações corretas sobre a real situação da área gerida. Por esse motivo, logo no início do mandato, são fechados contratos com os principais meios de comunicação sob o manto das “verbas de publicidade”. Com o surgimento de outros elementos como radialistas, blogueiros e articuladores independentes as “verbas de publicidade” são refeitas. Dessa forma, promove-se a desinformação do povo quebrando a possibilidade de formação de grupos coesos que possam lutar contra o governo corrupto. É instalada uma censura velada. Neste caso, se se mostrar fraco, qualquer meio opositor cai sobre a força da censura. Se for forte, este opositor emerge como possível novo candidato a receber a “verba publicitária”. O tempo e os valores oferecidos dirão o grau de corrupção deste novo canal de oposição.
  • Confiar na justiça. – É muito comum vermos políticos corruptos que quando chamados aos tribunais dizerem a seguinte frase: “Eu confio na justiça.”

No caso do Brasil especificamente, essa afirmação está correta. Toda pessoa esclarecida sabe que neste país as leis são escritas por uma grande maioria de corruptos. É de se esperar que esses párias não estejam dispostos a criar leis eficientes. Os excessos de “recursos em liberdade” tornam o cumprimento de uma sentença de condenação uma falácia. A atuação de advogados e/ou juízes corruptos é recorrente.

Existem efeitos colaterais ao exercício de um governo corrupto. Vou listar apenas 2 de forma rápida:

1 – Articuladores políticos de oposição tentam o uso da população desinformada como massa de manobra e em benefício próprio;

2 – Sob uma administração medíocre, o atual governo é tão ruim que governos anteriores e/ou péssimos começam a parecer bons ou até mesmo ótimos.

Considerações finais:

O objetivo deste texto não é apresentar uma fórmula exata para a detecção do políticos corruptos, mas é uma ferramenta muito eficiente para a percepção de seus “modus operandi”. Existem variações praticamente infinitas de políticos corruptos, pois esses elementos passam dos mais medíocres aos mais refinados. No Brasil encontramos uma grande variedade da primeira classe. A dos medíocres. Essa situação é possível devido ao baixo nível de escolaridade e/ou informação da população.

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