O que a religião...

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Os "pastores" aproveitam as vantagens que lhes oferece o estudo religioso, bem árduo e bem complexo, não para resolvê-lo por meio de afirmações concretas ou de raciocínios admissíveis, mas tão-somente para perpetuar a dúvida no espírito de seus correligionários, que é, para eles, um ponto de capital importância.

E nesta luta titânica entre o materialismo e o deísmo, luta em que a religião se empenha e se reforça para conseguir o triunfo, os deístas recebem rudes golpes da razão. E conquanto se encontrem numa postura de vencidos, ainda se apresetam à multidão ignara como dignos cantores da vitória!

Suponhamos que nos deparemos com um indivíduo "sensato e refletido", que admite a existência de Deus – um Deus que não está envolto em nenhum mistério, um Deus que não se ignora nenhuma particularidade, um Deus que lhe confiou todo o seu pensamento e lhe transmitiu todas as suas confidências, e que nos diz:

– Ele fez isto e aquilo, e ainda isto e aquilo. Ele tem precedido e falado com tal fim e com tal razão. Ele quer tal coisa, mas também quer tal outra coisa. Ele recompensará tais ações, mas punirá tais outras. Ele fez isto e quer aquilo, porque é infinitamente sábio, infinitamente justo, infinitamente poderoso, infinitamente bom!

Ora aí está um Deus que se faz conhecer: Abandona o império do inacessível, dissipa as nuvens que o rodeiam, desce das alturas, conversa com os mortais, expõe-lhes o seu pensamento, revela-lhes a sua vontade e confia a alguns privilegiados a missão de espalharem a sua doutrina, propagarem a sua Lei, de a representarem enfim, lá em baixo, com plenos poderes para mandarem no Céu e na Terra!

O que não se discute é:

O mal existe. Todos os seres sensíveis conhecem o sofrimento. Deus, que tudo sabe, não pode ignorá-lo. Pois bem, de duas, uma: Ou Deus quer suprimir o mal e não pode; ou Deus pode suprimir o mal e não quer.

No primeiro caso, Deus pretendia suprimir o mal, porque era bom, porque compartilhava das dores que nos aniquilam, porque participava dos sofrimentos que suportamos. Ah! Se isso dependesse dele! O mal seria suprimido e a felicidade reinaria sobre a Terra...

Mais uma vez Deus é bom, mas não pode suprimir o mal – não é todo poderoso.

No segundo caso, Deus podia suprimir o mal. Bastava que o quisesse para que o mal fosse abolido. Ele é todo poderoso e não quer suprimir o mal; portanto, não é infinitamente bom.

Aqui, Deus é todo poderoso, mas não é bom; acolá, Deus é bom mas não é todo poderoso. Para admitir a existência de Deus, não basta que ele possua uma destas perfeições: poder ou bondade. É indispensável que possua as duas.

Mas o que dizem é: "... saber isso não lhe é facultado..." "...isso é um mistério da fé!"



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