O amor (romântico) não existe






O matemático russo Lev Pontryagin, falecido em 1988, nunca imaginou que a sua teoria do controle óptimo, desenvolvida para solucionar um contratempo de um avião de combate soviético, pudesse ser usada para explicar, por exemplo, po rque razão a cada 33 segundos termina um casamento europeu.

O cientista sugere que as relações sentimentais duradouras e satisfatórias são praticamente impossíveis.

No entanto foi o que José Manuel Rey, da Universidade Complutense de Madrid, fez. E com base na Matemática afirmou: “Ter uma relação sentimental duradoura e satisfatória é impossível, salvo excepções”.

Rey juntou a segunda lei da termodinâmica e as equações de Pontryagin para explicar o paradoxo do fracasso: muitas pessoas casam-se apaixonadas e comprometem-se a viver juntas para sempre, mas o matrimónio acaba mal sucedido.

“Quando se inicia um casamento as sensações dissipam-se como o calor de um copo de leite, o amor não basta, há que fazer um esforço”,
garante o investigador. Até aqui nada de novo.

O psicólogo norte-americano John Gottman aplicou a segunda lei da termodinâmica ao amor em 2002 e, desde então, é consultor matrimonial em Seattle a partir de conversas em laboratório. Mas Rey foi mais além.

O seu modelo teórico, publicado na PloS ONE, é um integral e uma equação, inteligíveis para qualquer pessoa não especialista em matemática, que demonstra “um mecanismo diabólico que faz com que, mesmo que se case muito apaixonado e haja muito esforço, seja muito fácil fracassar”.

José Manuel Rey, investigador
José Manuel Rey, investigador
Ao introduzir variáveis como a sensação positiva que produz uma relação amorosa e o custo do esforço para manter viva a chama, da máquina teórica de Pontryagin saíram três conclusões não tão óbvias. A primeira, segundo salienta Rey, é que de entre todos os modos de esforço para manter uma relação, só há uma que funciona − mesmo que a equação não diga qual.

Em segundo lugar, o esforço necessário é sempre maior do que o esperado. E por último, é fundamental manter o esforço durante toda a vida para vencer a inércia natural que, segundo mostram as equações de Rey, conduz de modo implacável a preguiça entre o casal.

Modelo vindo do espaço

O modelo teórico de Rey é reducionista e utiliza uma equação que os engenheiros da NASA empregam para ajustar a viagem de uma nave espacial, mas altera o espaço percorrido pelo amor e o combustível necessário por um esforço abstracto.

Ficam de fora milhões de variáveis. “Quando um fenómeno sociológico é tão massivo como o divórcio, é muito difícil pensar que existe uma multiplicidade de causas. Há que procurar um mecanismo simplificador, e a arte das matemáticas é eleger as variáveis chave de um problema”, aclara o cientista.

Nas equações, o esforço é apenas uma letra. Em todos os casais esse esforço é abstracto, mesmo que nuns signifique aturar a sogra e noutros suportar o companheiro a roncar durante a noite.

Mesmo que o casal seja ideal, o esforço, como reconhecem os sociólogos, é sempre maior do que esperado. O amor é “uma substancia que arrefece”.

O que diz a Revista Superinteressante

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Edição 278

Amor - O Fim


Vocês trocaram mensagens bobas pelo celular, dividiram brigadeiros de panela, assistiram TV juntos largados na poltrona e dormiram de conchinha. Foram, enfim, o centro da vida um do outro. Mas agora é cada um para o seu lado. E sempre fica um enorme ponto de interrogação: se era tão bom, por que acabou? Para entender, é preciso voltar no tempo e fazer um passeio pelas savanas africanas, 3 milhões de anos atrás. O homem caçava e protegia a família. A mulher cuidava dos filhotes. Mas, em determinado momento, os casais se separavam. O objetivo da família nuclear - nome técnico que os antropólogos dão ao conjunto de pai, mãe e filhos - era garantir que o homem ficasse por perto tempo suficiente para criar o filhote. Somente isso. Quando o filhote já estava crescidinho e não exigia atenção integral da mãe (que por isso podia voltar a se virar sozinha), o pai estava livre para ir embora e procurar outras fêmeas para procriar.


É daí que vem a chamada crise dos 7 anos. Esse é o período necessário para que uma criança se torne minimamente independente. Um estudo da ONU revelou que o número de separações vai aumentando a partir do 3o ano dos relacionamentos e atinge o pico no 7o ano - quando começa a declinar. Ou seja: o 7o ano realmente é a hora da verdade da relação. No filme O Pecado Mora ao Lado, de 1955, Marilyn Monroe faz o papel de uma mulher que se relaciona com um homem casado. Sabe qual é o nome original do filme, em inglês? The Seven Year Itch, ou "A Coceira dos 7 Anos". Porque é justamente nesse momento que a relação está mais ameaçada - pela comichão de trair.

As estatísticas variam, mas entre 50 e 60% dos homens têm sexo fora do casamento, contra 45 a 55% das mulheres. O aumento da infidelidade tem a ver com a independência delas, que já são quase metade da força de trabalho e estão diminuindo rapidamente a distância financeira para os homens (nos EUA, 22% das esposas já ganham mais do que os maridos). Mas as raízes disso estão dentro do cérebro. Lembra-se de quando dissemos, na primeira reportagem desta série, que os sistemas cerebrais (luxúria, paixão/amor e ligação) eram independentes? Isso tem um motivo - e não é complicar os relacionamentos. Pelo contrário: surgiu para que nossos ancestrais pudessem buscar estratégias reprodutivas diferentes. A mulher poderia ter um parceiro para protegê-la enquanto gerava os filhos de outro, enquanto o homem poderia espalhar seus genes alegremente por aí, com outras mulheres. A natureza não queria o ideal romântico de amor eterno. Ela queria que tivéssemos um backup reprodutivo, um plano B genético, e nos meteu nessa confusão.

E as circunstâncias também influem: na hora de decidir trair ou não, a relação do casal, a insatisfação com o parceiro, a oportunidade, tudo isso pesa.

Mas muita gente tem os genes, os hormônios, todas as oportunidades do mundo, e não trai. Nós não somos robôs biológicos. É possível resistir ao desejo de trair. Mas é muito mais difícil resistir a outro fenômeno, igualmente destrutivo para os relacionamentos: o ciúme. O mais engraçado é que esse monstro de olhos verdes, como chamou Shakespeare, surgiu com o objetivo oposto - preservar a relação monogâmica. Ao primeiro sinal de infidelidade, soa o alarme e a pessoa fica atenta. E, como homens e mulheres desenvolveram estratégias distintas de reprodução, também sentem ciúmes de coisas diferentes.

Como para o homem é muito dispendioso criar o filho de outro homem, ele sente mais ciúmes da infidelidade sexual. Já para a mulher, não faria tanta diferença se o homem distribuísse apenas esperma para as moças por aí; a grande ameaça é o envolvimento emocional, que coloca em risco a proteção e o cuidado que o homem dá a ela e aos filhos.

Em 2006, o neurologista japonês Hidehiko Takahashi fez exames de ressonância magnética no cérebro de homens e mulheres que comprovaram essas diferenças. Quando sente ciúmes, o homem usa partes do cérebro ligadas a comportamentos agressivos e sexuais, como a amígdala e o hipotálamo. Já nas mulheres, a área mais ativada durante as crises de ciúme é o sulco temporal posterior superior, associado à percepção de emoções nas outras pessoas.

E a internet está piorando o ciúme. Uma pesquisa feita por psicólogos canadenses com 308 voluntários descobriu que as redes sociais, como Orkut e Facebook, alimentam o ciúme. Sabe por quê? Nada menos do que 74,6% das pessoas adicionam ex-namorados ou rolos como amigos nessas redes - que depois o cônjuge atual vai fuçar atrás de indícios.

Com ou sem ciúme, a verdade é que boa parte dos relacionamentos está destinada a acabar. E esse momento pode ser muito difícil. "A natureza realmente exagerou no que diz respeito ao fim dos relaciomentos", diz Helen Fisher. Quando uma pessoa é abandonada, sua reação se divide em duas fases. A 1a é o protesto. É quando a a pessoa fica fazendo promessas, doida para reatar. Isso pode ser muito inconveniente. Mas ela não tem culpa. É o corpo agindo. "O cérebro estava acostumado com aquela recompensa [a pessoa amada], então faz você insistir mais e mais para tentar consegui-la de novo", explica a neurologista Suzana Herculano-Houzel. O pânico de ver que não está dando certo pode acionar o sistema de estresse do organismo, que por sua vez estimula novamente a produção de dopamina - ironicamente, fazendo a pessoa se sentir ainda mais apaixonada.

Depois vem a 2a fase: aceitação. Depois de ver que o amado não irá mesmo voltar, muita coisa pode passar pela cabeça da pessoa - depressão, confusão, frustração. Até mesmo ódio. Mas por que sentir algo tão ruim por alguém que se amou? É que o ódio e o amor passam pelas mesmas partes do cérebro - a ínsula e o putâmen. "A diferença entre os dois é que, no ódio, existe mais capacidade de planejar as ações. No amor, o julgamento está prejudicado", diz o neurologista Semir Zeki, da University College London. Então o ódio é mais racional que o amor? Não necessariamente. Mas ele tem sua função: é uma defesa do organismo para nos fazer seguir em frente. Em vez de ficarmos remoendo eternamente as dores, passamos a não querer mais ver a pessoa. "Assim como o cérebro associava coisas positivas a uma pessoa, ele pode passar a associar só sentimentos ruins, negativos", diz Suzana Herculano-Houzel. Todos nós sofremos e fazemos sofrer. E, se isso servir de consolo, as celebridades também se separam e sofrem, talvez até mais do que as pessoas comuns. Já ficou famosa a chamada "maldição do Oscar", que atingiria as vencedoras do Oscar de melhor atriz. Nos últimos 12 anos, apenas duas atrizes não se divorciaram após ganhar o Oscar. E logo após o prêmio deste ano, o marido da vencedora, Sandra Bullock, foi pego tendo um caso extraconjugal.

Tem gente que mata (e se mata) por amor. Mas a maioria das pessoas supera as dores emocionais da separação. Um estudo feito pela Universidade Northwestern mostrou que terminar uma relação não é tão ruim quanto pensamos que vai ser - geralmente leva metade do tempo que achamos. Isso acontece porque a mente tende a voltar a seu estado inicial: cientistas da Universidade de Massachusetts provaram que, após um ano, as pessoas que ganham na loteria apresentam os mesmos níveis de felicidade que as que se tornam tetraplégicas. Ambas voltam aos níveis de felicidade que tinham antes do fato extraordinário.

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Uma das causas do Niilismo!

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