A Oi Velox e a ameaça à sua privacidade


Você é cliente de internet banda larga da operadora Oi, através do serviço Velox?

Sim? Pois desculpe te dar a má notícia, mas sua privacidade está correndo MUITO perigo, leia estes trechos da matéria “Um espião em seu computador” pela Época em sua edição Nº 629, datada de 07/06/2010:

Existe um programa de computador que registra tudo o que você faz na internet. (…) E transmite toda essa informação a uma empresa que analisa seu comportamento e o classifica de acordo com algum rótulo. Soa amedrontador? Pois é real. Esse tipo de invasão de privacidade ameaça os internautas brasileiros.


A sequência acima, de rastreamento da navegação na internet, descreve o serviço oferecido pela empresa inglesa Phorm. Ela está chegando ao Brasil. Seu principal cliente aqui é o provedor de internet Velox, serviço oferecido no Rio de Janeiro pela operadora de telecomunicações Oi. A Oi está testando aqui uma versão do programa da Phorm chamada Navegador.

Em março deste ano, o Financial Times noticiou que a Phorm, empresa especializada na criação e manutenção de spywares, fechou negócio com a Oi e os provedores de conteúdo iG, Terra, Estadão e UOL, em que assegurou adiantamento de lucros de R$ 10 milhões.

Pagamento adiantado de lucros, é algo que faz supor que a empresa seja muito lucrativa e concorrida, e que em decorrência do grande número de clientes pode dar-se ao luxo de só trabalhar com pagamento adiantado, correto?

Errado.

A Phorm é uma empresa que foi fundada em 2002 e que por ter desenvolvido como produto principal softwares classificados como spyware, viu-se forçada a suspender suas vendas em vários países como Estados Unidos e Canadá, e para completar foi escorraçada da Inglaterra depois de rodar uma versão nova de seu programa chamada Webwise junto à British Telecom, conjunto de fatores que fez com que suas ações perdessem mais de 90% de seu valor entre os anos de 2007 e 2010.

O caso da British Telecom, chegou ao ponto de render ao Governo Inglês, seu dono, um puxão de orelha por parte da União Européia, que estava preocupada com a privacidade de seus concidadãos. E o Crown Prosecution Service, um órgão inglês equivalente à nossa Promotoria Pública, estuda processar criminalmente a British Telecom pelo uso do programa, a polícia de Londres está auxiliando nas investigações.

Ou seja, a Oi, o iG, o Estadão, o UOL, e o Terra meteram a mão no bolso por vontade própria e financiaram um produto (Webwise/Navegador), banido da Europa, e que a despeito de todo esforço, não conseguiu ainda, tudo indica não conseguirá, voltar aos EUA e Canadá, e que possivelmente tenha o uso considerado criminoso na Inglaterra.

Por que você deve preocupar-se com sua privacidade e a banda larga Oi Velox, caso seja cliente deles?

Primeiro eu vou explicar rapidamente como os dados trafegam na internet: apesar de ser transparente para nós, a informação não flui na forma de uma corrente contínua, ela transita na forma de pequenos agrupamentos de dados chamados pacotes; cada um destes pacotes traz consigo um ‘cabeçalho’ de informações que indicam a qual arquivo ele pertence, e qual sua posição neste referido arquivo, desta forma o computador do usuário que os recebeu em casa, analisa o pacote, e o reagrupa na forma do arquivo original.

Geralmente não notamos que isso acontece, mas se você já usou Voz sobre IP, já deve em algum momento ter notado que uma parte da voz da pessoa com quem você estava falando não chegou, como um pequeno intervalo no meio de uma palavra, isso acontece justamente porque as vezes alguns pacotes não chegam ao usuário final.

Aqui entra a Phorm e o potencial risco que a Oi Velox representam à sua privacidade.

O que o serviço provido pela Phorm, conhecido como Webwise/Navegador, f az* é se meter entre você, usuário e a outra ponta da conexão. Ele finge que é você para o site que vai acessar para coletar a informação, e finge que é o site que você está tentando acessar, para te repassar a informação, com isso ele é capaz de fazer o que se chama de “Deep Packek Inspection” (algo como “Inspeção Profunda de Pacotes”), em que TODO e CADA pacote de dados que você requisitar ou enviar, seja visto, analisado e até mesmo arquivado para uso futuro pela Oi Velox. E isso acontecerá com a quase totalidade** dos dados que sua atividade de internet gerar:

  • Você recebeu um email com informações confidenciais? Ela o lerá antes.
  • Você conversou com alguém através do MSN/Gtalk? Ela sabe o que, com quem e quando você conversou.
  • Você entrou em um site de conteúdo duvidoso, mesmo que tenha sido por engano? Vai ficar lá, gravadinho no servidor deles.
  • Você entrou em algum site da concorrência para ver preços? Ela também saberá, e sabe-se lá o que vai fazer

É mais ou menos como ter alguém gravando TODAS suas ligações telefônicas, para depois ouvir e decidir como usar.

Segundo a informação da Época, o serviço aparentemente seria do tipo ‘opt-in’, ou seja, você tem que querer participar. MAS, na British Telecom, o serviço era ‘opt-out’, ou seja, empurraram goela abaixo de 18.000 usuários sem autorização ou consentimento, forçando o uso inicial, e quem quisesse pedia para sair. Outra coisa a ser observada, é que a Oi Velox alega que não haverá retenção de dados de quem está navegando.

Agora, caro cliente Oi Velox, você deve se perguntar: você confia que a Oi Velox não vá logar as informações MESMO que você não peça, ou até pior, logar TUDO, inclusive quem você é junto aos seus dados de navegação??

Uma reportagem postada pelo iG, portal que pertence à Oi, em março passado já dá uma idéia da coisa, vejam como eles vendem o Webwise/Navegador:

A Oi, maior companhia de telecomunicações do país, e os principais portais brasileiros se uniram para lançar uma ferramenta capaz de ajudar o internauta a ter o que se pode chamar de navegação personalizada.

e

O Navegador pode ser definido como um sistema de busca instantâneo de conteúdos, capaz de realizar as pesquisas sem que o internauta precise digitar os comandos num campo específico. Basta navegar.

Note que a forma com que eles tentam pegar otários vender a ideia de usar o produto, foi batizando-o com o nome da ferramenta que usamos comumente para navegar na internet: o navegador.

Cabe a você decidir, se você confia que Oi Velox não fará nada errado, continue com ela. Se você acha que sua privacidade corre risco, fuja da Oi Velox e vá para a concorrência.

Só acho que quem não quer invadir a privacidade de ninguém, não investe R$ 10 milhões em uma tecnologia que, além de ter sido banida de todo continente Europeu, EUA e Canadá, corre o risco de ter o uso considerado criminoso pela common law inglesa. Como dizem no Twitter, #corrão(sic) para as montanhas… (ou para a concorrência).

Por Gilberto "Knuttz"

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