Se nada sou, não me procuro

A

Mário de Sá-Carneiro

Não sei quem sou, nem o que sou, nem porque sou...
Nunca nada está plenamente apreendido ou conquistado,
Toda a posse é limitada e todo o conhecimento é incompleto e vago.

O que define o que sou é uma função de onda,
Onde as soluções são Tudo e Nada:
— Sou Tudo quando vivo… Sou Nada quando nada sinto…

A vida está onde o corpo se sonha e se ambiciona.
A morte encontra-se onde o corpo se coloca sem respirar…

Há dias em que existo, sendo visível no que de mais ínfimo há em mim…
Noutros dias, sou majoração da minha ausência. Nada sou…
Se me procuro, não me acho onde me procuro.
A noite inconsentida antecipa-se à vontade que tenho de encontrar-me...

Não sei quem sou, nem o que sou, nem porque sou…
Nunca nada está plenamente apreendido ou conquistado,
Toda a posse é limitada e todo o conhecimento é incompleto e vago.

Procuro-me onde me ache, se alguma coisa sou…
Se nada sou, não me procuro,
Por não haver quem procure e por que procurar…

Penso nos lugares longínquos onde já estive.
Descubro os lugares onde o meu coração sempre bateu…
Sou Tudo!… Até, de novo, o Nada me tomar…

Não sei quem sou, nem o que sou, nem porque sou…
Nunca nada está plenamente apreendido ou conquistado
Toda a posse é limitada e todo o conhecimento é incompleto e vago.


Joaquim Carvalho
Paço de Arcos, 26 de Setembro de 2008

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