Uivo




Meu corpo morre lento
Menos lento que o normal
Morre com vontade
Em silêncio,
No vão da montanha,
Numa paz que me perturba.
A noite ratifica o escuro do dia
Serei eu, homem ou fera?
Ouço uivos ou choro?
Daqui vejo o mundo todo,
Do vão da montanha.
As cores e as sombras,
De um passado agora distante.
Coração de outrora regina morada,
Lugar ideal pra ficar
É lugar fatal para estar,
De quem mata para não morrer.
Estou no vão da montanha
No meio, entre o céu e o inferno
Mais perto do céu, mas com os pés no inferno.
Não espero o anjo, porque não há tempo de espera
Viro-me para o caminho
Sem dar um passo, ainda.
Calor só do meu hálito
Que alimenta a montanha
Em fins de semana
Os braços de ar, a cama que me deito.
São as plumas da fênix em que
Me enrolo sobre o peito,
Recordando o céu azul.
É a vontade que fica.
Fica vazia também a dispensa.
Por isso aqui estou
De volta ao vão da montanha.
De espada embainhada
Prestes a ser usada
Para cortar toda a verdade...
Para não lembrar que tudo dói.
Até a alma violada.
É o tudo que tenho.
Além do hálito quente,
Que derrete o inferno deste Inverno.
Mas não as paredes de gelo,
Que me dão o medo que me esqueças
Aqui no vão da montanha.


(miliano)

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