Imitando deus

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Imitando deus a criei.
De minha melhor matéria
Colhi poder e soprei
Pulsei coração enchi artéria

Ofertei-a tudo sem nada dispor.
Da lua, as formas redondas.
Reuni para lhe compor,
Do suave mar, as ondas

Para possuí-la com terno movimento,
Das folhas da árvore ao vento.
Explorar sua sinuosidade
Nua estrada, sem velocidade.

Sorvi seus cheiros e cores,
Num jardim usurpando flores.
Na nuance da nuca delicada
Percorrida com lingua atrevida.

Circense ora me enervo,
Ora amoroso olhar de servo.
Do raio de sol a alegria,
Por sentir pulsar sua euforia.

As gotas da nuvem em coro
Por essa inconstância de vento
Lhe apaziguar custa caro
Fazer do inferno paz de convento

Fiel como um cão
Seguidor como romeiro
Pela devoção do capelão
Desterrado, despedido, sem paradeiro

Ser duro diamante
Ser suave pluma
Ser doce infante
Faz raiva em espuma

Desfaz a crueldade do tigre
Aviva o ardor do fogo
Pelo coração de Alatriste
Ser forte, restaurado o jogo

Da sua frieza de neve
Fiz bálsamo para a dor
Estar à flor da pele
Não traria Salvador

Da mistura de ingrediente
Para a criatura pus desgosto
Abstinência de dor latente
Desvelado em calvário posto
Destruo-a por ser amante
Fazendo do seu criador, morto.



(Miliano)




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