Garanhuns por Tony Bellotto


Garanhuns é uma cidade em Pernambuco, mais lembrada atualmente por ser a terra natal do presidente Lula. Assim como seu filho famoso, Garanhuns é também uma cidade sui generis: situada na serra, apresenta temperaturas amenas, mesmo quando o resto do estado está castigado pelo sol inclemente e abrasador do nordeste.

No inverno realiza-se ali um festival de artes, e pode-se comer, em qualquer época, fondues variados num restaurante especializado. No entanto, apesar dos fondues, o prato mais festejado da gastronomia garanhuense é a buchada de bode. Dizem que ali se come a melhor do mundo.


Garanhuns é assim, cheia de paradoxos. Como o Brasil. Fizemos um show, os Titãs, em Garanhuns na segunda-feira que antecedeu ao feriado de 21 de abril. Vindos do Rio Grande do Sul, ainda atordoados pelo número de shows que fizemos por cidades gaúchas, levamos um susto ao sentir frio em pleno Pernambuco.

Pensamos por alguns momentos estar ainda em terras sulinas. Mas ao ver um sujeito com chapéu de cangaceiro e poncho de lã, percebi mais uma vez que o Brasil é sempre surpreendente. E imenso. Embora algumas vezes pareça pequeno e mesquinho como uma republiqueta de comédia (penso agora no escândalo das passagens aéreas dos deputados e senadores, mas juro que não vou falar sobre isso).

O show que fizemos em Garanhuns foi também revelador em muitos outros sentidos. Em primeiro lugar, quando soubemos do horário em que entraríamos em cena: uma e meia da madrugada! Mas isso lá é hora de se começar um show? Tememos pelo público, que, segundo nossos cálculos, estaria morto de sono e cansaço. Que nada! O pessoal deve ter comido muita buchada de bode, pois poucas vezes enfrentamos uma plateia tão animada.

E para quem esperava encontrar - numa cidade encarapitada numa serra de Pernambuco - um público ávido por baiões e forrós, nos deparamos com uma turba faminta do mais puro rock'n roll. Garotada esperta e antenada, falando gírias que se falam em antros de rock do ABC paulista, lado a lado com senhoras elegantes de cachecol nos saudando com a bela pronúncia pernambucana.

Viva o Brasil que não é pequeno!


http://veja.abril.com.br/blog/cenas-urbanas/

Comentários