10 perguntas para Kristen McCormack

Entrevista na Isto É

10 perguntas para Kristen McCormack
ROSENILDO GOMES FERREIRA

A diretora da faculdade de gestão de programas sociais da Universidade de Boston (EUA), Kristen McCormack, costuma dizer que a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) não é uma corrida de 100 metros, mas sim uma maratona. "É um conceito que cresce à medida que os empresários ampliam sua consciência social e ambiental", argumenta. Em sua rápida passagem pelo Brasil, onde veio assumir o posto de conselheira do recém-criado Instituto International Paper, ela falou à DINHEIRO sobre a evolução do conceito de sustentabilidade.

"Empresas brasileiras fazem mais em sustentabilidade do que falam, ao contrário das americanas"

DINHEIRO - Qual a relação da sra. com o Brasil?
KRISTEN McCORMACK -
Desde 2005 venho despachando 20 alunos de MBA por ano para analisar como as empresas do País lidam com os postulados da RSC. A cada visita, eu me surpreendo com a qualidade e a quantidade dos programas. Antes de optar pelo Brasil fiz um levantamento do que era feito na Índia, na China, no Leste Europeu e na América do Sul. O Brasil está em um estágio bastante adiantado.

DINHEIRO - Até mesmo em relação aos EUA?
KRISTEN
- Sem dúvida. Costumo dizer que as empresas brasileiras fazem mais do que falam, ao contrário das americanas cuja propaganda é desproporcional aos projetos que elas patrocinam.

DINHEIRO - Como assim?
KRISTEN
- Quando conheci os programas educacionais da Fundação Bradesco, fiquei surpresa com a qualidade e mais ainda com o fato de os gestores do banco não usarem isso em suas campanhas de marketing.

DINHEIRO - Há outros projetos de destaque no Brasil?
K
RISTEN - Tem um da Petrobras que considero emblemático, pois reúne os três importantes pilares: redução de custos, criação de empregos localmente e uso de recursos renováveis. Ela contratou moradoras do sertão baiano para confeccionar malhas de sisal usadas como isolantes térmicos dos dutos do gasoduto que passa pela região. A aderência do produto é feita com uma cola à base de óleo vegetal. Antes, a cobertura era feita de alumínio, um material não renovável. A International Paper também possui importantes projetos na área ambiental.

DINHEIRO - Essa postura é um exemplo da evolução do conceito da RSC?
KRISTEN
- Claro. As empresas precisam ter em mente o impacto que seus produtos causam na vida das pessoas e na saúde do planeta. Em vez da filantropia se pratica cada vez mais a sustentabilidade.

DINHEIRO - Quais os impactos da crise global no engajamento das empresas em programas de RSC?
KRISTEN
- O único efeito prático até agora foi a redução das doações. Algumas ONGs viram a captação de recursos para seus programas cair à metade em relação a 2008. Isso, felizmente, não indica que as empresas estejam reduzindo sua consciência social e ambiental.

DINHEIRO - Não se trata de um contrassenso entre o discurso e a prática?
KRISTEN
- Em uma época de escassez de recursos é natural que as empresas reduzam investimentos em algumas áreas para preservar sua própria sustentabilidade.

DINHEIRO - O pedido de concordata da GM indica que ela não soube atuar como uma companhia sustentável?
KRISTEN
- É um caso emblemático. Boa parte dos americanos quer carros que causem impacto menor no meio ambiente. A GM seguiu a direção contrária.

DINHEIRO - No geral, as companhias americanas estão alinhadas com os anseios da população?
KRISTEN -
Hoje, pode-se dizer que a sustentabilidade já se incorporou ao DNA de diversas companhias. Redes varejistas como a Home Depot e o Wal-Mart enxergaram isso e estão se adaptando à nova era. E o consumidor costuma recompensar quem age corretamente.

DINHEIRO - O pagamento de elevados bônus a executivos de empresas em dificuldades fere os princípios de sustentabilidade?
KRISTEN
- Os americanos ficaram irados ao descobrir a política de remuneração adotada por algumas empresas. Isso colaborou para prejudicar a imagem de diversos setores, especialmente o financeiro.

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