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Jornal inaugura nova modalidade de artigo científico

Por Cristina Caldas
10/09/2007

Bruno Latour e Steve Woolgar, no livro A vida de laboratório – A produção de fatos científicos, já havia nos aproximado do dia-a-dia dos cientistas. O Journal of Visualized Experiments (JoVE) faz o mesmo, abrindo um novo canal de comunicação audiovisual com o mundo da pesquisa e suas peculiaridades. Por meio de artigos científicos publicados na forma de vídeos de livre acesso (vídeos-artigos), é possível conhecer um pouco mais como a pesquisa de laboratório em biologia é realizada. Para o público em geral, é uma maneira de se aproximar da prática científica. Para os cientistas, uma forma de visualizar detalhes técnicos pouco explorados na resumida sessão de “Materiais e Métodos” dos artigos científicos.

Lançado em dezembro de 2006, o periódico estadunidense foi idealizado pelo biólogo Moshe Pritsker enquanto fazia seu doutoramento na Universidade de Princeton. “Eu sofria para reproduzir experimentos a partir dos artigos impressos, até que percebi que eles não funcionam por não descreverem de maneira clara a complexa realidade dos experimentos”. Surgiu, então, a idéia de apresentar as mais diversas experiências na forma de vídeos-artigos. “Percebi que, para aumentar a reprodutibilidade, os experimentos precisavam ser mostrados”, explica o editor-chefe.

Com 300 a 500 acessos diários exclusivos, o JoVE é dividido nas sessões protocolos básicos, neurociência, biologia do desenvolvimento, biologia celular, biologia vegetal, microbiologia e imunologia. Seu conselho editorial conta com a participação de cientistas de renomados centros de pesquisa, como as Universidades de Harvard, Princeton, do Sul da Califórnia, Quioto, Zurique e Wuerzburg, assim como de pesquisadores do Centro Nacional da Pesquisa Científica (CNRS, na sigla em francês), na França, e do Instituto Nacional de Saúde (NIH, na sigla em inglês), nos Estados Unidos.

Como são feitos os vídeos-artigos

Os vídeos-artigos seguem a estrutura dos papers acadêmicos, com uma breve introdução, metodologia, resultados e uma discussão no final focada nos principais problemas metodológicos da técnica descrita.

Embora alguns vídeos sejam enviados pelos próprios cientistas, hoje em dia o JoVE conta com uma infra-estrutura organizacional que permite filmar em centros acadêmicos de pesquisa de diferentes cidades. A ajuda profissional de produção – filmagem e edição – acontece em 15 cidades nos Estados Unidos e algumas outras como Tóquio e Berlim.

Em meio à erlenmeyers, tubos de ensaios, pipetas, placas, reagentes, células e uma bancada normalmente bagunçada, diferentes metodologias podem ser acompanhadas e também utilizadas em instituições de ensino.

"Sinceramente, não conhecia o JoVE, mas quando olhei a página fiquei impressionado com a qualidade e apostando na idéia. Vou divulgar dentro de meu âmbito", destaca Gilson Volpato, professor do Departamento de Fisiologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que atua também na área de Redação Científica.

Um pouco de brasilidade pode ser vista no vídeo-artigo publicado no JoVE sobre infecção da mosca drosófila pela bactéria Wolbachia, tema comentado também por Marcelo Leite em sua coluna, no início de setembro, no caderno Mais!, do jornal Folha de S. Paulo.

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